Lula voltou. É a melhor maneira de resumir o primeiro pronunciamento público do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anular as condenações dele por incompetência do ex-juiz Sérgio Moro em fazer o julgamento. Lula se comportou como Lula. Atacou duramente adversários - leia-se Moro e a força tarefa da Operação Lava Jato -, traçou paralelos entre o governo de Jair Bolsonaro e o momento em que esteve no Palácio do Planalto e conversou com o “povo”.
Para quem esperava uma primeira fala raivosa, o ex-presidente acabou desapontando. As objeções ficaram contidas e restritas aos algozes que o condenaram e o removeram da disputa eleitoral de 2018. Como quem reconhece o papel enquanto uma das principais lideranças políticas do Brasil, Lula foi ao mesmo tempo incisivo e conciliador, num esforço que remete ao início dos anos 2000, quando o petista moderou o discurso e assumiu a presidência da República.
Veio do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a primeira sinalização de que Lula merece respeito pelo que construiu. Outros adversários usaram as redes sociais para acusar o petista dos crimes anulados por Fachin ou para deslegitimar o discurso dele, que se comporta como candidato, mas prefere não assumir esse papel ainda. É parte da estratégia discursiva para tentar minimizar o retorno de um nome tão competitivo à corrida eleitoral e os aliados de Lula sabem disso. Rodrigo Maia foi uma voz ponderada.
O pronunciamento provocou também um efeito adverso na base de Jair Bolsonaro. Após a repercussão do tom “estadista” do ex-presidente, as armas do governo federal se transformaram rapidamente em vacinas e o atual morador do Palácio da Alvorada apareceu de máscara em um evento público e defendeu a aquisição de imunizantes para a retomada da normalidade. A mudança repentina não incluiu ainda o fim da defesa de remédios sem eficácia comprovada, mas é preciso manter os flertes com os radicais para não perder a substância.
A partir de agora, todos os atos envolvendo Lula serão acompanhados de perto. O petista vai aproveitar o vazio de liderança deixado pela inaptidão de Bolsonaro para comandar o país. Isso não quer dizer que haverá uma aliança ampla para tentar acalmar os ânimos políticos do Brasil. A polarização vai continuar acontecendo, até para que se discuta qual o melhor projeto almejado pelos brasileiros. Porém a melhor forma de sintetizar os acontecimentos dos últimos dias é também bem simples: Lula voltou.