Bebês reborn: conheça o trabalho de cegonhas do Rio, as artesãs dos bonecos realistas; Paes deve ganhar um com seu rosto

Projeto de lei que reconhece uma data para as profissionais foi aprovada pela Câmara dos Vereadores e precisa ser sancionada pelo prefeito

“Sua mão está limpa?”. Essa é a primeira pergunta que Janaína Affonso, de 47 anos, faz às visitas que chegam à sua “maternidade” em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio. A artesã, que mora com o marido e as filhas, é responsável por 70% da renda da casa com sua produção de bebês reborn (bonecos hiper-realistas) e dando aulas a novas profissionais do ramo. A profissão, batizada de cegonha, foi reconhecida pela Câmara dos Vereadores do Rio no início deste mês e pode ganhar um dia para chamar de seu, 4 de setembro, dependendo apenas de sanção do prefeito Eduardo Paes.

Protética e contabilista, Janaína (@cegonha_janaina_affonso) entrou no mundo reborn por escolha. Depois de sua empresa quebrar, fez um curso para criar bonecos realistas em 2019, após a filha mais velha pedir um de presente. No ano seguinte, veio a pandemia, e, além das encomendas, passou também a dar aulas. A popularização desse trabalho, no entanto, foi acompanhada de críticas.

— Os haters estão começando a penalizar, a falar do bebê reborn da forma negativa, como se fosse uma insanidade. Não estão entendendo que isso não é de verdade. Existem pessoas que têm cuidado, porque é algo que não é baratinho. E tem que ter cuidado, tem que limpar, mas é diferente de você tratar como uma criança de verdade — diz Janaína.

Cegonhas unidas

A moradora do Valqueire criou em 2022 o movimento Cegonhas Juntas Somos Rosas, que hoje tem 76 membros, na intenção de ter a profissão reconhecida. Desde então, realizou eventos, como um concurso de fantasias para bebês reborn e um batizado de bonecos. Foi assim que o grupo chegou ao vereador Vitor Hugo (MDB), autor do projeto que visa a criar o Dia da Cegonha Reborn no Rio. O parlamentar, que relatou ter virado “chacota” com a aprovação da lei, ganhou um boneco inspirado em seu rosto de adulto, conta Janaína. Ela agora pretende produzir, em conjunto com outras artesãs, um bebê reborn com o rosto do prefeito.

— Não quero amolecer o coração de ninguém. Quero que ele (Paes) entenda a finalidade da arte reborn. Ele tem que assinar (sancionar a lei) consciente de que está assinando uma causa séria — diz Janaína, acrescentando que os bonecos realistas podem ajudar no tratamento da depressão e em terapias com idosos com Alzheimer.

De São Gonçalo, a costureira Nádia Vieira (@nanabebe.maternidadereborn), de 54 anos, entrou no ramo dos bebês reborn depois de clientes pedirem que ela confeccionasse um moisés de tecido para um boneco:

— Fiz cursos, mas não ficava realista como eu queria. Então, tive que desenvolver minha própria técnica.

— Mas tem gente que nem quer entrar na loja, porque tem nervoso, principalmente dos reborn de olhos fechados, porque dá mais realismo — conta a empreendedora, que tem outra “maternidade” em Maricá, onde mora.

Entre os clientes da loja de Caxias está Mirella, de 7 anos, que foi ao local na última quarta-feira com a bisavó, Laura Cavalcante, de 76, justamente durante a visita do DR para esta reportagem. Diante dos bonecos, a pequena escolheu uma específica, que saiu por R$ 1.200:

— Gosto dessa porque pode dar banho!

Preços podem chegar a R$ 8 mil

Tudo depende: Os valores variam de acordo com quem vende, mas também com exigências dos clientes. Quanto mais realista, mais caro.

Com corpo de pano: Preço mínimo pode partir de R$ 800. Há quem venda a partir de R$ 1,6 mil.

Com corpo 100% vinil: É possível comprar a partir de R$ 1,5 mil.

Por semelhança: Bebês reborn feitos por encomenda, para se parecerem com alguma foto, são mais caros e saem a partir dos R$ 2,5 mil.

Que mama e faz xixi: Bonecos com essas funções custam na faixa dos R$ 2 mil. Há quem venda a R$ 6 mil e até a R$ 8 mil, a depender do material, por exemplo.

Parto é mais caro: Com uma placenta de silicone, cordão umbilical e água dentro do recipiente, dá para simular ainda um parto do bebê reborn, o que pode encarecer o produto em mais de R$ 1 mil.