SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador mineiro Romeu Zema virou alvo de críticas de líderes políticos de esquerda, centro e direita após ter defendido maior protagonismo de Sul e Sudeste em discussões nacionais. Após a repercussão em fala vista como separatista, o governador do Novo disse que não está contra ninguém e repudiou o que chamou de distorção dos fatos.
As falas de Zema despertaram uma série de críticas, sobretudo de opositores, que lembraram sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de políticos do Nordeste. O mineiro é considerado pré-candidato do campo da direita para a eleição presidencial de 2026.
Ele, que rivaliza com o presidente Lula (PT), já tinha sido alvo de contestações por afirmações que distinguiam o Nordeste e foram classificadas como xenófobas e preconceituosas.
Um dos primeiros a reagir foi o governador João Azevêdo (PSB-PB), presidente do Consórcio Nordeste. Ele emitiu nota neste domingo (6) na qual classificou como preocupante a defesa feita pelo governador de Minas Gerais de protagonismo dos estados do Sul e Sudeste, por ver estímulo a "guerra entre regiões".
A declaração de Zema foi dada em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ao falar sobre a criação do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste), ele disse que a diferença de tratamento às regiões ficou clara durante a discussão da Reforma Tributária e cobrou espaço proporcional.
O mineiro chegou a fazer uma analogia com "vaquinhas que produzem pouco" ao falar sobre distorções de arrecadação e necessidades, dizendo que, se um produtor rural começa a dar um bom tratamento só para essas vacas, "daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento".
Para Azevêdo, a fala "indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste". O líder do Consórcio Nordeste diz ser preciso rejeitar "qualquer tipo de lampejo separatista" e afirma que a entrevista "parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual".
Outro a reagir a Zema foi o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado (PL-PE). "Repudio veementemente qualquer fala que sequer ventile a separação de nosso país. Temos uma unidade, povo e riqueza que poucos países do mundo tem. Essa unidade nasceu da união de todos nós."
A maior parte das reações veio da esquerda, mas também se pronunciaram nomes como a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), para quem "o Nordeste é parte da solução do país e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença".
Após as críticas, Zema afirmou na noite deste domingo que "a união do Sul e Sudeste jamais será para diminuir outras regiões".
Em uma postagem, ele escreveu que "não é ser contra ninguém, e, sim, [ser] a favor de somar esforços" e que "diálogo e gestão são fundamentais para o país ter mais oportunidades". Zema concluiu dizendo que "a distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil está no trabalho em união".
Na entrevista, o governador de Minas reiterou que os estados do Cosud abrigam 56% da população. "Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos -que é o que nunca tivemos- protagonismo político", afirmou.
Em outro momento, ele adotou tom irônico ao defender que os estados também sejam lembrados na discussão de ações sociais e questionou se eles "vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta".
"O Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade? Tem, sim", disse.
Zema também usou a entrevista para defender a aglutinação da direita em torno de um só nome em 2026, considerando o cenário sem Bolsonaro, que está inelegível. O mineiro desconversou sobre sair candidato à Presidência e afirmou preferir apoiar outro nome de seu segmento.
Líderes políticos como o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, entraram em cena para acalmar os ânimos. O deputado federal por São Paulo foi a público dizer ser desnecessário polemizar a fala do governador.
"Defender a representatividade dos estados é do jogo democrático. Não atenta ao federalismo, garantido pela Constituição que juramos. Temos de buscar pacificação, e não conflito", disse.
Em tom mais duro, o ministro Flávio Dino (Justiça) insinuou que Zema pratica traição à pátria ao difundir mensagem de oposições entre regiões do país e, em uma postagem, citou o artigo da Constituição que proíbe "criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".
"É absurdo que a extrema direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte", disse Dino, que integrou o Consórcio Nordeste até o ano passado, como governador do Maranhão.
Na mesma linha, o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), afirmou que Zema se revela "o maior inimigo da federação brasileira" no momento em que o país "mais precisa de união".
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), gravou um vídeo negando que a existência do Cosud seja para rivalizar com estados do Norte e Nordeste. Os dois colegiados foram criados em 2019.
O tucano pregou união "em torno do que é pauta comum e importante para os estados do Sul e do Sudeste" e afirmou não acreditar que "Zema tenha dito nada diferente disso". "Se disse, não me representa", ressalvou.
Outro integrante do Cosud, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), disse que os termos usados por Zema são opinião pessoal e que participa do Cosud "para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões".