Uma onda de revolta tomou conta das redes sociais após denúncias de que a plataforma de streaming Spotify teria removido, sem justificativa, milhares de playlists com conteúdo relacionado à cultura negra, indígena e à Consciência Negra no Brasil. A ação gerou indignação em usuários, artistas e ativistas que agora exigem explicações públicas da empresa.
De acordo com centenas de relatos recebidos pela redação do Diário de Recife, usuários afirmam que playlists com artistas negros, indígenas, faixas de protesto, músicas de empoderamento racial e listas marcadas com termos como “Consciência Negra”, “Orgulho Negro” e “Cultura Indígena” foram apagadas sem qualquer aviso prévio, sem explicação e sem violação de diretrizes.
“Acordei e minha playlist de Cultura Preta havia sumido. Era uma curadoria com músicas de artistas negros independentes, que não têm espaço nas rádios. Simplesmente apagaram”, conta a produtora musical Aline Xavier.
Silêncio da plataforma
Até o momento da publicação desta matéria, o Spotify não se manifestou oficialmente sobre os relatos. Alguns usuários alegam terem recebido mensagens automáticas e impessoais da empresa afirmando que a plataforma “tem autonomia para remover conteúdos que julgar necessário” e que “a plataforma pertence ao Spotify, e eles fazem o que quiserem”. A resposta, considerada arrogante e insensível, acirrou ainda mais os ânimos.
Racismo estrutural e apagamento cultural
Para especialistas, a atitude do Spotify configura um grave caso de racismo institucional e apagamento cultural. A curadora cultural e doutora em estudos étnico-raciais, Juliana Oliveira, avalia que a ação é uma afronta direta à diversidade:
“Estamos falando de uma plataforma global que atua em um país onde mais de 56% da população se declara negra ou parda, e que possui mais de 300 povos indígenas. Remover conteúdos que representam essa maioria é um ato de violência simbólica, um apagamento sistemático da cultura e da identidade desses grupos.”
Clamor por justiça: STF e órgãos públicos são acionados
Movimentos sociais, coletivos de artistas e entidades de direitos humanos prometem levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Conselho Nacional de Direitos Humanos. A pressão é para que haja investigação, responsabilização e mudanças urgentes nas práticas do Spotify no Brasil.
“Essas plataformas vêm ao nosso país, lucram bilhões com nosso conteúdo, com a música brasileira, com nossa diversidade, e depois cospem na cara do povo. O Brasil precisa reagir!”, afirma em nota o movimento Coalizão Negra por Direitos.
Spotify no Brasil: lucro alto, respeito zero?
O Brasil é hoje um dos maiores mercados do Spotify no mundo. Mesmo assim, a empresa enfrenta críticas constantes por sua baixa remuneração a artistas independentes, falta de diversidade nos destaques editoriais e agora, ataques diretos à cultura negra e indígena.
A falta de transparência, aliada à remoção em massa de conteúdos sensíveis e identitários, reforça uma preocupação: até que ponto grandes corporações respeitam a soberania cultural dos países onde atuam?
Nosso repúdio
O Diário de Recife se une ao coro de indignação contra o racismo e o preconceito institucionalizado por plataformas que, ao invés de promoverem inclusão, reforçam desigualdades históricas e sociais. Manifestamos aqui nosso repúdio à conduta do Spotify, exigimos esclarecimentos públicos e pedimos ao Estado brasileiro que não se omita diante dessa grave afronta à população negra e indígena do país.
O Brasil precisa de mais respeito, mais cultura e mais humanidade. E menos silêncio diante do preconceito.
Usuários denunciam remoção em massa de playlists com artistas negros e indígenas pelo Spotify. Acusações de racismo e preconceito geram revolta no Brasil e mobilizam movimentos sociais a acionar o STF contra a plataforma.